Mensagem do Bispo Primaz para a Quaresma de 2018

“…E, assim como conheces as nossas fraquezas, permite que cada qual encontre em ti o poder da salvação” Coleta para o primeiro domingo da Quaresma

Irmãos e Irmãs,

A Quaresma segundo o Lecionário do Ano B, começa com o Evangelho de Marcos que faz a conexão didática entre o batismo e a experiência do deserto. E esta proposta tão claramente exposta no exige uma séria reflexão sobre o que significa viver este tempo litúrgico.

O Pacto Batismal que afirmamos no cotidiano de nossa vivência de fé e que é parte essencial de nossa identidade cristã nos coloca em conflito com as forças do mal e nos fazem passar a experiência do deserto.

Não é por acaso que a terceira pergunta na liturgia batismal é exatamente acerca da reúncia ao mal. A resposta a esta pergunta é o que nos coloca em rota de colisão com o sistema de opressão. E assumir essa luta é colocar-se no deserto.

Falo aqui dos desertos pessoais, dos desertos institucionais e dos desertos espirituais. Neles se travam batalhas tremendas e se desenrolam sucessivos conflitos que nos arrastam até a exaustão, a exemplo de Jesus. Nossas fraquezas ficam expostas e somente a graça de Deus nos pode socorrer neste duro embate.

Quando olhamos para a sociedade, pensamos: por que precisamos assistir tanta violência? Por que precisamos conviver com tamanha desigualdade entre as pessoas? Por que o poder está em uma escala de valor superior ao amor? E nos movimentamos num terreno árido onde perpassam mais perguntas que respostas.

Quando olhamos para a Igreja fazemos também muitas perguntas de como podemos ainda continuar divididos por questões de poder. Como podemos ainda, depois de sermos assegurados de que o Senhor está conosco todo o tempo, viver a dor da divisão, a dor das injustiças e porque muitas vezes o amor está tão distante de ser vivido no cotidiano das pessoas.

Jesus viveu esta angústia profundamente. Ele teve que defrontar-se com armadilhas ardilosas preparadas para o seu tropeço. O que o guardou de tudo isso foi a Palavra de Deus. Foi ela que, guardada no seu coração, iluminou a sua mente e o seu coração durante a sua experiência de deserto. Ao final, exausto, com fome, frágil, os anjos vieram servi-lo.

Conclamo a Igreja brasileira a viver a sua experiência quaresmal com humildade e profundo desejo de que Deus sare as nossas feridas. Que seja um tempo de reflexão e oração profundas. Que seja um tempo onde a gente aprenda a inverter alguns valores na nossa vida como pessoas e na nossa vida como Igreja: mais amor e menos divisão; mais serviço e menos poder: mais oração e menos discurso.

Uma abençoada Quaresma para todas a pessoas!

Santa Maria, 14 de fevereiro de 2018

++Francisco, Santa Maria

Primaz do Brasil

Publicado em 14/02/2018 pelo Serviço de Notícias da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.