O Brasil busca “conhecimento” do Canadá na defesa indígena

A defesa dos direitos dos povos indígenas é uma área na qual a Igreja Anglicana do Canadá pode ter muito a oferecer a sua irmã, disse o primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil no mês de julho.

“Irmãos e irmãs, o que está acontecendo neste momento no Brasil é um sério genocídio contra os povos indígenas”, disse o Bispo Francisco de Assis da Silva em uma pequena sala cheia de pessoas no evento “lunch and learn” (almoce e aprenda) no Sínodo Geral da Igreja Anglicana do Canadá, que aconteceu de 7 a 11 de julho em Richmond Hill, Ontário. Em um ano recente, disse ele, mais de 138 indígenas brasileiros foram assassinados como parte de uma luta pela terra com grandes empresas agrícolas de larga escala.

“É um campo [no qual] espero que as igrejas do Brasil e do Canadá possam ficar mais conectadas, pois vocês… têm uma longa batalha para construir tudo isto que vocês estão fazendo agora, e nós estamos começando. Nós precisamos de seu conhecimento e de sua experiência, pois… estamos prontos para fazer a defesa, mas nós precisamos ter mais instrumentos para tornar as comunidades indígenas estejam representadas, e suas vozes sejam escutadas na sociedade brasileira”.

O Arcebispo Fred Hiltz, Primaz da Igreja Anglicana do Canadá, viajou ao Brasil em novembro último para se encontrar com Assis e outros da igreja brasileira. Em uma entrevista com o Anglican Journal logo após seu retorno, Hiltz disse que os brasileiros estavam muito interessados em aprender sobre a Comissão da Verdade e Reconciliação do Canadá, os 94 Chamados para Ação que surgiram a partir dela e a resposta da Igreja Anglicana do Canadá a esses chamados.

Os direitos indígenas, disse Assis ao Sínodo Geral em uma apresentação posterior no mesmo dia, é uma área de preocupação para a igreja brasileira – uma igreja, disse ele, que tem um interesse especialmente grande pela justiça social. A igreja enfatiza a inclusividade em muitas áreas, inclusive na política de gênero, informou; ela tem, por exemplo, ordenado mulheres reverendas por 31 anos. Assis disse que também espera que em breve tenha uma mulher bispa.

“Somos uma igreja pequena. Mas como igreja pequena, fazemos muito, muito barulho”, disse um sorridente Assis, cuja apresentação incluiu mais de uma desculpa por sua ocasional imperfeição na língua inglesa.

Uma preocupação central da igreja brasileira no momento, disse ele, é o estado da democracia no país em meio ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

“O Brasil está vivendo momentos críticos em termos de suas instituições políticas”, disse. “A democracia e os direitos estão sob séria ameaça”.

Muitos dos problemas do país, disse ele, têm origem no processo de colonização – um processo que resultou em uma mentalidade denominada, algumas vezes, de “casa grande e senzala” – uma casa grande para os ricos e habitações de escravos para o resto.

Pela maior parte do tempo desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente em 2003, disse Assis, foi feito um progresso considerável no país com relação aos direitos humanos e na melhoria das condições de vida dos pobres, de outros grupos marginalizados, de mulheres e crianças.

“É evidente para todo o mundo que o Brasil se tornou um lugar no qual o governo estava comprometido com a transformação” durante este período, disse ele.

Então, em outubro último, Rousseff foi reeleita, mas por uma pequena margem, e seu governo ficou sem maioria no congresso. Desde então, conservadores tentam reverter algumas das mudanças e tentam, no que Assis se referiu como golpe de estado, em uma tentativa de destituir Rousseff na ausência de qualquer crime de sua parte.

Assis disse se preocupar com o caos civil que pode resultar se o processo de impeachment – esperado para ser concluído em agosto – ter sucesso.

“Dependendo do resultado, honestamente eu não sei o que poderá socorrer nossa sociedade”, disse.

As igrejas brasileira e canadense desenvolveram um relacionamento próximo com o passar dos anos. Agora há relacionamentos de companheirismo entre as dioceses de Huron e da Amazônia e as dioceses de Ontário e a Sul-Ocidental; as igrejas nacionais também estão trabalhando em direção a uma parceria formal.

Após a apresentação de Assis no Sínodo Geral, Hiltz disse que, enquanto muitas igrejas no Brasil predominantemente católico-romano são conhecidas por sua devoção a Santa Maria, “há outras que são devotas não apenas a Maria, mas a cantar sua canção e a fazer sua canção na própria essência de seu testemunho na sociedade em que vive, e isto é muito verdadeiro na igreja [Anglicana] no Brasil”.

“Esperamos continuar este diálogo… enquanto moldamos mais uma vez um relacionamento de província para província”, completou.

Texto escrito por Tali Folkins para o Anglican Journal. Publicado em 27/07/2016 pelo Anglican Communion News Service.