A paz e segurança vêm ao fazer as coisas “com” as pessoas, e não “para” elas

“Você não pode criar paz e segurança ao fazer coisa [para as pessoas], você precisa estar ao lado, fazendo coisa com as pessoas”, disse o Arcebispo de Cantuária, Justin Welby, nesta manhã.

O Arecebispo Welby fez este comentário durante uma mesa de debate sobre “Extremismo violento: ameaça global, solução local” no Fórum Econômico Mundial de Davos. A mesa incluiu o primeiro-ministro do Iraque, Rowsch Shaways; e a discussão foi presidida por L. Markus Karlsson, o editor de negócios da estação televisiva France24, que transmitiu a discussão.
Durante a discussão, o Arcebispo defendeu o lugar da religião, e particularmente a fé cristã, dizendo: “a resposta à má religião não é a não religião, mas a boa religião”.“E acredito que os líderes religiosos – bem, posso falar apenas como cristão – mas como cristão eu diria que nosso papel é apresentar a fé de Cristo de uma maneira que seja tão claramente cheia de amor e graça de Deus que isto seja uma efetiva contra-narrativa em si e por si…”

Ele falou da relação “absolutamente maravilhosa” que alguns clérigos da Igreja da Inglaterra servindo em paróquias com vizinhos majoritariamente muçulmanos; e falou de um reverendo: “há um intercâmbio constante de amizade, amor, acolhimento, cuidado de um por outro quando as coisas ficam difíceis…”

“Este é um antídoto efetivo pois diz «não preste atenção nas pessoas que dizem que não há propósito ou chamado de esperança para a vida no Ocidente»…”

E, ao admitir que as mulheres muitas vezes são vistas como “inferiores” por causa da “história do patriarcado” dentro das principais tradições religiosas, ele disse que isto “criou uma cultura na qual um grupo de pessoas – neste caso as mulheres – são vista de alguma maneira como inferiores”.

“Uma vez que você tenha feito isto a um grupo de pessoas, é muito fácil fazer isso com outros grupos de pessoas. Você criou a atmosfera na qual você pode demonizar ou dizer que um grupo é perigoso e deve ser controlado, eliminado, ou seja o que passe a ser. Penso que precisamos ser muito conscientes disto”. Ele continua: “Dentro de muitas tradições religiosas – e dentro da tradição cristã – há a ideia da dignidade essencial de todo ser humano, independente de quem sejam”.

“Reivindicar a proclamação disso, da posição absoluta disso, em nossas declarações políticas, em nossas transações comerciais, em nossa educação, em nosso tratamento de saúde, em todas as áreas importantes da vida; é essencial para mostrar um caminho alternativo”.

Respondendo a questões da audiência, o Arcebispo Welby expressou uma cautela sutil sobre as rupturas do pensamento extremista.

“Há alguns terrenos escorregadios quando você começa a acreditar em uma determinada maneira que inexoravelmente o leva à violência”, disse. “Se voltarmos vinte ou mais anos ao genocídio de Ruanda: o momento que você começa a ver um grupo de pessoas como cockroaches (baratas), como eles são chamados pelo rádio – isto pode ser apenas um pensamento mas abre o caminho para a violência”.

“A Rainha Elizabeth primeira disse que – se você perdoar a linguagem baseada no gênero – que «não pode abrir janelas na alma de um homem» foi a frase que ela usou. Nós não podemos olhar no interior do coração de uma pessoa”.

“E portanto, acredito que precisamos ser muito cuidadosos sobre o controle do pensamento. Educar, sim. Inspirar, ainda melhor. Fazer as coisas difíceis de se pensar, melhor ainda. Não apenas por serem inaceitáveis, mas por elas serem contrárias a toda a maneira que olhamos o que é um ser humano”.

“Mas controlar o pensamento é assumir os valores que tentamos nos opor”.

Ele disse que era importante lidar com o tipo de pensamento “cockroach” – discurso que rebaixa as pessoas e torna fácil matá-las e atacá-las; mas ele termina com uma questão desafiadora: “Quem é um extremista?”

Ele continuou: “Martin Luther King, de certa forma, foi um extremista; e graças a Deus que ele existiu”.

Escrito por Gavin Drake, publicado em 22/01/2016 no site Anglican Communion News Service.