Educação Teológica para a Comunhão Anglicana (ETCA)

O Modo Anglicano: Sinais de Orientação numa Jornada em Comum [1]

Consulta do Modo Anglicano do ETCA de Cingapura, Maio de 2007

Este documento é o resultado de um processo de quatro anos, no qual líderes da igreja, teólogos e educadores de todo o mundo se reuniram para discutir sobre o ensino da vida, da identidade e da prática Anglicanas. Eles tornaram mais claro o modo como os Anglicanos se veem e à sua missão no mundo. Essas características, chamadas de o “Jeito Anglicano”, devem servir de base para o ensino do Anglicanismo em todos os níveis de aprendizado, envolvendo o laicato, o clero e os bispos. Este documento não deve ser visto como uma definição abrangente de Anglicanismo; contudo, coloca marcos que orientam os Anglicanos na sua jornada de autoconhecimento e de discipulado de Cristo. A jornada está sempre em movimento, porque o ser anglicano é sempre influenciado pelo seu contexto e pela sua história. Historicamente, diversos modos de ser anglicano emergiram, todos os quais podem ser encontrados na rica diversidade do Anglicanismo atual. Todavia, os Anglicanos têm os seus pontos em comum, que são o quê os mantém juntos em comunhão através de “laços de afeição”. Os sinais de orientação colocados abaixo são oferecidos na esperança de que eles irão mostrar o caminho para um entendimento mais claro do ministério e da identidade Anglicanos, de modo que todos os Anglicanos possam ser efetivamente ensinados e equipados para o seu serviço para a missão de Deus no mundo.

O Modo Anglicano é uma das expressões do Modo Cristão de ser da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica de Jesus Cristo. É formado e enraizado nas Escrituras, moldado pela adoração do Deus vivo, ordenado para comunhão e dirigido pela fé para a missão de Deus no mundo. A vida e o ministério dos anglicanos servem de testemunho do Senhor encarnado, crucificado e ressuscitado em diferentes situações globais e são fortalecidos pelo Espírito Santo. Juntos com todos os outros cristãos, os Anglicanos esperam, oram e trabalham para a vinda do reino de Deus.

Formado pelas Escrituras

1. Nós Anglicanos discernimos a voz do Deus vivo nas Escrituras Sagradas, mediada pela tradição e pela razão. Lemos a bíblia juntos, em grupo e individualmente, com gratidão e senso crítico ao passado, forte comprometimento com o presente e com fé paciente para o futuro de Deus

2. Observamos o conjunto das Escrituras para todos os aspectos das nossas vidas e valorizamos todos os modos que ela nos ensina a seguir a Cristo com fé, em diversos contextos. Oramos e cantamos as Escrituras por meio da liturgia e dos hinos. Os lecionários nos conectam com toda a amplitude da Bíblia e, por meio da pregação, interpretamos e aplicamos o conteúdo das Escrituras em nossa vida, que compartilhamos no mundo.

3. Aceitando a sua autoridade, ouvimos as Escrituras com os corações abertos e as mentes atentas. Elas moldaram o nosso rico legado: por exemplo, os credos ecumênicos da Igreja primitiva, o Livro de Oração Comum e os formulários Anglicanos, como os Artigos de Religião, os catecismos e o Quadrilátero de Lambeth.

4. Em nossa proclamação e testemunho à Palavra Encarnada, nós valorizamos a tradição do compromisso com os estudos das Escrituras, desde os primeiros séculos até os dias de hoje. Desejamos ser uma verdadeira comunidade, que está sempre aprendendo à medida que vivenciamos a nossa fé, procurando sabedoria, força e esperança um no outro durante a nossa jornada. Estamos sempre descobrindo que situações novas pedem por novas expressões da fé e da vida espiritual descritas nas Escrituras.

Moldada pela Adoração

5. O nosso relacionamento com Deus é nutrido através do nosso encontro com o Pai, o Filho e o Espírito Santo na palavra e no sacramento. Esta experiência enriquece e molda a nossa compreensão de Deus e a nossa comunhão uns com os outros.

6. Nós Anglicanos louvamos o Santo Deus Trino, por meio da adoração em grupo, combinando ordem com liberdade. Nós nos oferecemos em penitência e em ação de graças para o serviço de Deus no mundo.

7. Por meio de nossas liturgias e formas de adoração procuramos integrar as ricas tradições do passado com as variadas culturas das nossas diferentes comunidades.

8. Sendo pessoas e comunidades fragmentadas e pecadoras, conscientes da nossa necessidade da misericórdia de Deus, vivemos pela graça por meio da fé e nos esforçamos sempre para oferecer vidas santas a Deus. Perdoados por meio de Cristo e fortalecidos pela palavra e sacramentos, somos enviados ao mundo no poder do Espírito.

Ordenado para Comunhão

9. Em nossas dioceses e províncias, lideradas por bispos e governadas por sínodos, nos rejubilamos pelos diferentes chamados de todos os batizados. Como definido nos ordinais, o tríplice ministério dos bispos, presbíteros e diáconos assiste na afirmação, coordenação e desenvolvimento desses chamados, no seu discernimento e prática por todo o povo de Deus.

10. Sendo Anglicanos pelo mundo afora, nós valorizamos os nossos relacionamentos uns com os outros. Nós nos voltamos para o Arcebispo de Cantuária como um foco de unidade e nos unimos em comunhão com a Sé de Cantuária. Além disso, somos ligados através de três instrumentos formais de comunhão: a Conferência de Lambeth, o Conselho Consultivo Anglicano e o Encontro dos Primazes. O Arcebispo de Cantuária e estes três instrumentos fornecem coesão ao Anglicanismo global, ao mesmo tempo que limitam a centralização da autoridade. Eles se apoiam em laços de afeição para o seu funcionamento efetivo.

11. Reconhecemos a contribuição das agências de missão e de outras entidades internacionais, tais como a União das Mães. Nossa vida em comum no Corpo de Cristo também é fortalecida por comissões, grupos de trabalho, redes de bolsistas, atividades regionais, instituições teológicas e ligações de companheirismo.

Dirigido pela Missão de Deus

12. Sendo Anglicanos, somos chamados a participar na missão de Deus no mundo, incorporando evangelismo respeitoso, serviço amoroso e testemunho profético. Assim fazendo, em nossos diferentes contextos damos testemunho e seguimos a Jesus Cristo, o Salvador crucificado e ressuscitado. Celebramos a missão de doação de vida e de reconciliação de Deus através do testemunho e do ministério criativos, custosos e cheios de fé, de homens, mulheres e crianças, do passado e no presente, por toda a nossa Comunhão.

13. Todavia, nós Anglicanos estamos fortemente conscientes que nossa vida e nosso engajamento na missão de Deus são marcados por falhas e imperfeições, tais como os aspectos negativos da herança cultural colonial, abusos de poder e privilégios pessoais, subvalorização das contribuições dos leigos e das mulheres, distribuição não-equitativa de recursos e visão míope em relação à vivência dos pobres e dos oprimidos. Como resultado disso, procuramos seguir ao Senhor com humildade renovada, de modo a poder disseminar as boas novas da salvação com liberdade e alegria, nas palavras e na ação.

14. Confiantes em Cristo, trabalhamos para a paz, a justiça e o amor reconciliador de Deus e, para isso, nos unimos com todas as pessoas de boa vontade. Reconhecemos os imensos desafios colocados pela secularização, pobreza, ambição desmedida, violência, perseguição religiosa, degradação ambiental e HIV/SIDA. Como resposta, nos engajamos em crítica profética das ideologias destrutivas, políticas e religiosas, e investimos em uma cultura de cuidado para com o bem-estar humano, expressado através da educação, da saúde e da reconciliação.

15. Em nossos relacionamento e diálogo com outras comunidades de fé, combinamos o testemunho do Reinado de Jesus Cristo com o desejo de paz, respeito mútuo e compreensão.

16. Sendo Anglicanos, batizados em Cristo, compartilhamos a missão de Deus com todos os cristãos e estamos profundamente comprometidos em construir relações ecumênicas. Nossa tradição católica reformada provou ser um presente que podemos trazer para o esforço ecumênico. Investimos no diálogo com outras igrejas baseados na confiança e no desejo de que todo o conjunto do povo de Deus possa crescer na plenitude da unidade para a qual Deus nos chama, para que o mundo possa crer nos Evangelhos.

(1) Atualmente este documento é oficial apenas em relação ao Encontro de Cingapura do ETCA, que concordou com o texto.

Traduzido por Joaquim de Souza Campos Neto; supervisão do reverendo Cezar Fernandes Alves.